Consideremos estes factos: Portugal construiu uma média de 80.000 casas por ano entre 1986 e 2007, o que equivale a uma casa em cada cinco minutos. Depois de Espanha, Portugal é o país com mais casas vazias na Europa. Atualmente, Portugal, que tem 10 milhões de habitantes, tem dois milhões de casas a mais, das quais 730 mil estão completamente vazias (em 2011) e as restantes são segundas habitações.
O boom imobiliário começou nos anos 2000, altura em que se assistiu a uma espécie de “corrida ao ouro”. O país parece preparar-se para um crescimento inesperado, mas enorme, da população. Lotes de terreno e casas foram comprados, vendidos ou trocados como num frenesim, ou como o meu pai gosta de dizer: “Costumava-se livrar de tudo”.
Bairros inteiros foram planeados e implementados com antecedência, paisagens de ruas com parques de estacionamento, sinalização e lanternas foram plantadas como árvores. A crise financeira mundial de 2008 fez com que tudo parasse de um momento para o outro e revelou o imenso excesso de produção de casas. Estes bairros planeados, muitas vezes construídos à volta das cidades, ainda estão frequentemente ligados à rede pública de água e eletricidade e estão à venda mesmo agora. Os comerciantes imobiliários que anunciam estes lotes de terreno com uma fotografia pessoal são os primeiros e os últimos habitantes destes bairros que nunca foram bairros planeados.